terça-feira, junho 05, 2007

Quiseste ir embora!

Quiseste ir embora!



Deixaste de sofrer! Penso antes que quiseste deixar de sofrer! Eu sei que quiseste deixar de viver, não desististe, porque nunca foste de desistir. Apenas já não aguentavas mais! Quiseste ir embora! Ainda não tomamos consciência disso, porque somos assim, queremos quem mais amamos o mais tempo possível junto de nós, sabes é um sentimento egoísta que temos, e de ti todos nós gostávamos muito, mesmo sabendo que sempre houve uma ou outra diferença de opinião como aconteceu sempre na vida de todas as pessoas, mas isso faz parte da vida.

As pessoas que amamos partem sempre antes de nós, e nós ainda não aceitamos que tenhas escolhido deixar de sofrer, porque para isso tiveste de ir embora! Deves ter-Lhe pedido para te aliviar a dor, já não tinhas mais forças, talvez tenhas até suplicado, mas não sei?! Acho que nem a Ele suplicarias, não por orgulho, mas porque sempre aceitaste as coisas boas ou menos boas sem te regozijares ou lamentares muito, aceitavas era assim que tinha de ser. Mas deves ter-Lhe pedido para te aliviar a dor e a amargura de teres de depender de tudo e de todos para continuar uma existência que não devia agradar muito, já que sempre foste uma pessoa que não precisava de ninguém, tu que andavas de passos firmes e fortes e olhavas as pessoas nos olhos, a tua postura era sempre erecta e as únicas vezes que inclinavas a cabeça era quando cumprimentavas as pessoas!

E a vida em muito pouco tempo levou-te a este estado em que já não tinhas controlo sobre o teu corpo e já não querias mais isso e sofrias com isso também! E quiseste ir embora! E agora que quiseste ir embora, ficamos tristes, mas ainda não tomamos consciência de que foste! Ficamos tristes mas ainda iremos ficar mais tristes daqui a uns tempos quando nos lembrarmos de ti! E todos temos as nossas recordações de ti e contigo!

Todos nos lembramos do quanto gostavas de pesca e todos nos lembramos que tivemos a nossa primeira experiência de pesca contigo. Para alguns foi a primeira e última, outros ainda aguentaram algumas pescarias, mas na realidade nenhum te seguiu os passos, talvez o quisesses, mas nunca o disseste abertamente a nenhum! E a caça lembras a caça?! Como tu gostavas daquilo, era quase uma religião! Também isso tentaste incutir-nos e alguns muitas vezes seguiram-te por esses montes e vales, mais longe ou mais perto, mas também ninguém te seguiu os passos! Davas a entender, mas não eras pessoas de jogar conversa fora!

Lembro também malaguetas bem picantes que nos passavas pelos lábios, algumas queimavam muito, mas sabíamos que era para nos tornar mais fortes, mais homens. Recordo também as velhinhas notas de Santo António que prometias a troco de apanhar um garniso, e olha que ele corria que se fartava. Mas nós cumpríamos a nossa parte e tu a tua, sempre assim foste.

Recordo que adoravas animais sobretudo cães e lembro um que tiveste que foi envenenado e sei que chorei muito por causa dele, mas também vi lágrimas nos teus olhos, porque gostavas dele e não percebias porque lhe fizeram tanto mal.

Lembro-me também que em pequeno eu só te via de longe a longe, não percebia que tinhas de ir trabalhar para longe, porque um dia segundo me disseram pudeste ser muito importante, pudeste ter tudo, mas a vida e a falta de sorte não permitiram que fosses alguém importante, mas isso já tu eras, sempre foste porque sempre foste tu!

Lembro também serões de Natal sentados no preguiceiro junto ao lar, onde se jogavam cartas e rapa a rebuçados, lembro dias de ano novo e aquela famosa feijoada ao almoço onde estávamos todos do mais velho ao mais novo!

Depois perdeste a companheira de toda a vida e começamos todos a ver-te definhar de dia para dia! Tinha saudades dela, mas nunca o mostraste a ninguém. Lembro mais coisas. Lembras as idas em segredo a uma ou outra tasca de que tinhas saudades, para beber uma boa pinga, mas tinha de ser segredo mesmo, porque afinal tinhas feito aquela operação ao estômago uns tempos antes, e não querias as tuas filhas preocupadas, como era lógico, pois elas não te queriam ver pior. E tinhas essas escapadelas com algum de nós para saborear uma pinga e nunca deixavas pagar. E ficavas aborrecido se alguém se antecipasse.

Depois de repente ficaste pior e deixaste de andar! Deixaste de poder controlar as coisas e ficaste nas mãos de quem há muitos anos atrás tiveste nas tuas! Mas tu não querias isso e estavas a sofrer e já não querias mais essa vida! Devias estar com muitas saudades da tua companheira de toda a vida e sem dizer nada a ninguém foste ter com ela! Sei que já a encontraste! Manda-lhe saudades! Nós ficamos bem!
Adeus até um dia!!!!

5 comentários:

Biblioteca Rodrigues de Freitas disse...

Triste porque falamos da morte, sensivel porque relembras essa pessoa ao falar dele, ao lembrares as pequenas particulares que tinha.
Gostei mas deixou me melancólica
Um abraço
Marisa

Anónimo disse...

Olá Amigo!
Os que mais amamos partem sempre antes de nós. Essa frase tem muito significado para mim, representa uma fase em que nos recusamos a aceitar a morte como uma coisa natural, é cultura. Cultura dizemos mas lamentamo-la, a morte, porque nos faz sofrer, faz sentir um vazio, mesmo nos momentos que estamos rodeados daqueles que nesse momento estão com para nos dizer que a vida continua e que se calhar a morte é uma solução, a melhor para quem estava a sofrer neste mundo, para quem o mundo apenas oferecia uma vida vegetativa. Somos claramente egoístas, embora nos recusemos a aceitar, pois mesmo sabendo que o outro estava a sofrer queremo-lo a viver, não queremos estar a fechar uma porta e ter a sensação que não devemos que alguém ficou do outro lado da porta, etc…
Nelo quanto a qualidade e emotividade do texto já falamos sobre isso, este texto continua a ter o poder de me fazer lembrar de coisas tristes e encher os olhos de lágrimas, mas acima de tudo também me faz recordar quer o outro, que partiu, não quer nos ver tristes, uma vez que as lágrimas nos impedem de ver os dias lindos que podemos ter.
Nelo sê feliz.
Um beijinho muito especial acompanhado de um abraço,
Ana

Anónimo disse...

Pois é amigo Nelo...
a vida por vezes é mesmo muito injusta...ou somos nos ke axamos ke sim!!!
eu conheço bem a dor de perder alguem mt kerido...acredita ke sim!! as pessoas ke nos rodeiam dizem: vai passar, coitado de kem vai p kem fica logo eskece!!! e eu digo-te:- coitado de kem fica!!pk ir todos vamos.. mais cedo ou mais tarde!! e kuanto mais tempo ca estamos mais sofremos... as pessoas ke nos mais adoramos vao saindo das nossas vidas e em nos so vao ficando as recordaçoes!!! e por vezes pergunto-me:- pk é ke kuando olho para tras so me lembro de coisas mas e ke me fizeram sofrer ao longo da minha vida?? e kuando penso nas pessoas keridas ke ja se foram, so me lembro das coisas boas ke me fizeram sentir?? pk será?? sabes responder??
vou ficar por aki Nelo, sabes ke adoro ler o ke escreves... consegues passar mt sentimento atravez das tuas palavras... por isso este mexeu mt cmgo!!!! (tu sabes ke sim)
nao estou contente com o meu comentario, mas tu keres saber kual a primeira impressao e neste momento estou mt tocada pk me fez reviver um passado mt triste, ke é ao mesmo tempo tao distante e tao recente....
Beijinho grande para ti...
maria

as palavras sempre ficam disse...

a conformidade das varias situaçoes do nosso quotidiano,por vezes nao é fácil gerir....quando se perde quem toda a vida se amou,essa conformidade é quase impossivel de aceitar....no entanto tens (entre muitos),o dom de aceitar e por muito que sofras,precisas apenas de uma folha em branco,ainda bem que assim é...permite-me ser ajudada tambem ao ler-te...adoro-te "bébbé" como tu...ninguém.

Anónimo disse...

ola amigo! Já a bastante tempo que não vinha ler os teus dizeres, hoje senti uma pontinha de curiosidade e cá estou. Este sentimento de saudade por aqueles que nos amamos aumenta com o tempo, pode andar adormecido por um período mas basta uma situação menos boa para tudo voltar de novo.
bastou ler este teu texto para me lembrar do quanto os meus me fazem falta. beijo