quinta-feira, junho 21, 2007

Gosto...

Gosto!...

Gosto do cheira da terra quando lhe caiem os primeiros pingos de chuva! Gosto de ti! Mesmo sem saber que levas anos-luz de avanço nesse amor!
Gosto de subir a uma montanha para perceber que ela só é alta vista do vale! Gosto de perceber que subindo a montanha não há impedimentos! Ah! E gosto de ti mesmo sabendo que o teu amor por mim está anos-luz a frente do meu!
Gosto de percorrer galáxias parado na escuridão do meu quarto! Percorre-las todas mesmo sem as conhecer pelo seu nome! E… gosto de ti mesmo sabendo que já me amas há muito tempo sem que eu o saiba!
Gosto dos meus filhos rebeldes e de ser um pai complacente! Gosto das birras deles! Gosto de os ver crescer a cada dia que passa e que me façam perguntas que me deixam sem resposta, pela surpresa desta ou por me deixar completamente sem reacção! E gosto de ti porque revelaste um amor que eu nunca vi!
Gosto de ter uma criança nos meus braços fortes e chorar ao vê-la protegida nestes mesmos braços! E percebo que já gostava de ti mesmo sem saber que já me amavas incondicionalmente!
Gosto de subir a uma árvore para me sentir um puto sem problemas! Ah! E amo-te mesmo sabendo que o amor que sinto pode nunca ser possível!
Gosto de viajar sentado no sofá, num livro que me leva bem longe, lá onde nunca sonhei, mas onde vou! Gostava que houvesse um livro que me leve a ti e ao amor que tu tens por mim! Amo-te a ti que já me amavas antes quando eu ainda não via! Era cego!
Gosto de escrever como que por um impulso, como faço agora e que talvez isto não tenha sentido a não ser para ti que me amas e amavas quando eu não via! Era cego!
Gosto de ser como sou! Parecer distante, mas estar mais perto do que se possa imaginar e parecer! Gosto de ti porque já gostavas de mim há muito tempo que de tão longo já está perdido na memória!
Gosto de ser como sou! Estar alheado de tudo mesmo sabendo que me apercebo de ti! Mas também gosto de surpresas, de saber que já me amavas e nunca vi! Era cego!
Gosto do meu Benfica e da sua águia mesmo sabendo que cada vez voa mais baixinho! Gosto de ti sem saber bem o porquê, desse teu amor cego e incondicional!
Gosto de rir por tudo e por nada! Gosto de sentir que não deixarei de rir, porque não quero que me percebas triste, mesmo quando a vida me disser que tenho de ficar triste! Rir quando não te conseguir ver, mas por saber que algures em algum lado desta terra pequenina e mesquinha tu estás a pensar em mim! E saber que efemeramente estás feliz porque pensas em mim! Gosto de rir porque me amas! Rir e virar as costas a tudo e não chorar!
Gosto de viajar em sonho, alem de um beijo teu, como tu sonhas há muito tempo com a possibilidade de poder ter um beijo meu! Porque me amavas sem que eu o soubesse!
Gosto das coisas que estão no limiar da impossibilidade, porque quando as concretizamos tem um sabor maior, porque foi difícil, porque foi duro, porque foi trabalhoso, mas uma vez conseguido valeu a pena! Gosto de poder saber que gostas de mim!

Manel

terça-feira, junho 05, 2007

Quiseste ir embora!

Quiseste ir embora!



Deixaste de sofrer! Penso antes que quiseste deixar de sofrer! Eu sei que quiseste deixar de viver, não desististe, porque nunca foste de desistir. Apenas já não aguentavas mais! Quiseste ir embora! Ainda não tomamos consciência disso, porque somos assim, queremos quem mais amamos o mais tempo possível junto de nós, sabes é um sentimento egoísta que temos, e de ti todos nós gostávamos muito, mesmo sabendo que sempre houve uma ou outra diferença de opinião como aconteceu sempre na vida de todas as pessoas, mas isso faz parte da vida.

As pessoas que amamos partem sempre antes de nós, e nós ainda não aceitamos que tenhas escolhido deixar de sofrer, porque para isso tiveste de ir embora! Deves ter-Lhe pedido para te aliviar a dor, já não tinhas mais forças, talvez tenhas até suplicado, mas não sei?! Acho que nem a Ele suplicarias, não por orgulho, mas porque sempre aceitaste as coisas boas ou menos boas sem te regozijares ou lamentares muito, aceitavas era assim que tinha de ser. Mas deves ter-Lhe pedido para te aliviar a dor e a amargura de teres de depender de tudo e de todos para continuar uma existência que não devia agradar muito, já que sempre foste uma pessoa que não precisava de ninguém, tu que andavas de passos firmes e fortes e olhavas as pessoas nos olhos, a tua postura era sempre erecta e as únicas vezes que inclinavas a cabeça era quando cumprimentavas as pessoas!

E a vida em muito pouco tempo levou-te a este estado em que já não tinhas controlo sobre o teu corpo e já não querias mais isso e sofrias com isso também! E quiseste ir embora! E agora que quiseste ir embora, ficamos tristes, mas ainda não tomamos consciência de que foste! Ficamos tristes mas ainda iremos ficar mais tristes daqui a uns tempos quando nos lembrarmos de ti! E todos temos as nossas recordações de ti e contigo!

Todos nos lembramos do quanto gostavas de pesca e todos nos lembramos que tivemos a nossa primeira experiência de pesca contigo. Para alguns foi a primeira e última, outros ainda aguentaram algumas pescarias, mas na realidade nenhum te seguiu os passos, talvez o quisesses, mas nunca o disseste abertamente a nenhum! E a caça lembras a caça?! Como tu gostavas daquilo, era quase uma religião! Também isso tentaste incutir-nos e alguns muitas vezes seguiram-te por esses montes e vales, mais longe ou mais perto, mas também ninguém te seguiu os passos! Davas a entender, mas não eras pessoas de jogar conversa fora!

Lembro também malaguetas bem picantes que nos passavas pelos lábios, algumas queimavam muito, mas sabíamos que era para nos tornar mais fortes, mais homens. Recordo também as velhinhas notas de Santo António que prometias a troco de apanhar um garniso, e olha que ele corria que se fartava. Mas nós cumpríamos a nossa parte e tu a tua, sempre assim foste.

Recordo que adoravas animais sobretudo cães e lembro um que tiveste que foi envenenado e sei que chorei muito por causa dele, mas também vi lágrimas nos teus olhos, porque gostavas dele e não percebias porque lhe fizeram tanto mal.

Lembro-me também que em pequeno eu só te via de longe a longe, não percebia que tinhas de ir trabalhar para longe, porque um dia segundo me disseram pudeste ser muito importante, pudeste ter tudo, mas a vida e a falta de sorte não permitiram que fosses alguém importante, mas isso já tu eras, sempre foste porque sempre foste tu!

Lembro também serões de Natal sentados no preguiceiro junto ao lar, onde se jogavam cartas e rapa a rebuçados, lembro dias de ano novo e aquela famosa feijoada ao almoço onde estávamos todos do mais velho ao mais novo!

Depois perdeste a companheira de toda a vida e começamos todos a ver-te definhar de dia para dia! Tinha saudades dela, mas nunca o mostraste a ninguém. Lembro mais coisas. Lembras as idas em segredo a uma ou outra tasca de que tinhas saudades, para beber uma boa pinga, mas tinha de ser segredo mesmo, porque afinal tinhas feito aquela operação ao estômago uns tempos antes, e não querias as tuas filhas preocupadas, como era lógico, pois elas não te queriam ver pior. E tinhas essas escapadelas com algum de nós para saborear uma pinga e nunca deixavas pagar. E ficavas aborrecido se alguém se antecipasse.

Depois de repente ficaste pior e deixaste de andar! Deixaste de poder controlar as coisas e ficaste nas mãos de quem há muitos anos atrás tiveste nas tuas! Mas tu não querias isso e estavas a sofrer e já não querias mais essa vida! Devias estar com muitas saudades da tua companheira de toda a vida e sem dizer nada a ninguém foste ter com ela! Sei que já a encontraste! Manda-lhe saudades! Nós ficamos bem!
Adeus até um dia!!!!