domingo, março 11, 2007

Por agora estou a tua espera!!...

Por agora estou a tua espera!!...

Por agora estou à tua espera... sozinha nesta casa que, sem ti, me parece gigantesca… e não sei se deva esperar, porque nunca me deste a certeza de vires… talvez não venhas nunca mais... Então nestes momentos de solidão questiono-me sobre muitas coisas… uma delas é se vale a pena lutar por algo ou alguém que sabemos que nunca vamos ter totalmente; se os bons momentos que passamos juntos compensam estes em que me sinto completamente sozinha, mesmo estando rodeada de gente que me diz que tenho razão, que não prestas e que nunca devia ter-me interessado por um canalha como tu. Pessoa que só querem ver-me bem, mas a quem no fundo só me apetece bater, porque ao invés de me ajudarem, só tornam esse processo tão complicado, que é o esquecimento, ainda mais doloroso.

Sair seria uma boa ideia, se soubesse que não te iria procurar em cada homem de cabelo loiro, de olhos verdes e pele de bebé…então prefiro refugiar-me aqui em casa… olhar o sofá onde ouvíamos Enya bem juntinhos, onde víamos filmes românticos copiando, de seguida, os pormenores mais interessantes; olhar cada parede, porque todas elas têm histórias para contar: a brutalidade com que me atiravas para cada uma delas e me amavas, ali mesmo (porque a cama que estava a dois metros dali ficava demasiado longe!); olhar os móveis que ainda têm as tuas dedadas, não porque quisesse guardar uma recordação tua, mas porque odeio limpar o pó...

Mudar de casa pode parecer ridículo, mas não é nada que não me tenha passado pela cabeça!! Espero que isso te faça perceber a dimensão da minha angústia, do meu sofrimento...

Em cada porta-retratos, e apesar de já ter mudado todas as fotos, vejo sempre o teu sorriso, os teus olhos a brilharem... e se dissesse que não sabia porquê estaria a mentir, a mentir muito... durante cinco anos habituei-me a vê-las espalhadas pela casa, a beijá-las, a amá-las, como se nelas estivesse retratado um ídolo!!

Os dias, desde que te foste embora, têm sido iguais aos de sempre, a única diferença é a saudade... digo “única” como se essa mágoa não fosse terrivelmente dolorosa... relembro com singular nostalgia os dias em que me acordavas com o carinho e amor que só tu tinhas, que nunca encontrarei em outro alguém, que nunca alcançarei de novo, nem mesmo nos meus melhores sonhos!!
Se soubesses o quanto te desejo... Mais do que alguma vez desejei, mais do que alguma vez poderei desejar alguém, mais do que alguma vez possas vir a ser desejado por outro ser terreno!!

Quanto às noites... acho que não conseguiria encontrar, por mais que tentasse, adjectivos suficientemente macabros para as qualificar!! Mas se pensares que estou neste casarão sozinha, sempre à espera que voltes, sempre a pensar naquilo que vivemos, naquilo que sonhámos viver, naquilo que nunca viveremos, simplesmente porque me abandonas-te, deves conseguir fazer uma pequena ideia do que sinto!!

Não sei se algum dia vais ler estas cartas, que escrevo para ti e só para ti... não sei se algum dia serei capaz de as entregar... se algum dia terei uma morada tua onde as possa deixar... mas, e apesar de tudo, se elas chegarem a ti, um dia, talvez noutra vida, noutro mundo, no Paraíso, quem sabe?!, espero que acredites na veracidade do seu conteúdo, que sorrias, porque um dia, talvez noutra vida, noutro mundo, foste muito amado, e onde quer que estejas, no Paraíso, quem sabe?!, contínuas a sê-lo... e terás sempre alguém à tua espera!!



Até ao Paraíso....

Uma última visita!!


Uma última visita!!

Olho pela janela e só vejo a chuva... o vento do inverno que chegou mais cedo, estamos em Agosto. Mas ainda bem que chove. O tempo está a definir com precisão o estado da minha alma... os dias escuros, o anoitecer bem cedo... estou sozinha e triste, mas tenho de aguentar!

A tua presença faria com que me sentisse muito melhor… mas tu não estás! Ficam as tuas mensagens no telemóvel... as tentativas falhadas de me fazer um bocadinho mais feliz. Como se fosse possível arranjar felicidade quando se está a um passo de perder alguém... para sempre!

E a dor de ver alguém tão próximo às portas do fim junta-se ao medo de não ser capaz de consolar a mulher que mais amo no mundo, não ser capaz de dizer que vai ficar tudo bem... provavelmente porque sei que aquilo que para mim é ficar tudo bem, para ela é o partir do coração, é o fim de uma etapa que, com toda a certeza, nunca quereria encerrar.

Não imagino a dor que esteja a sentir… só sei que a cada ida ao hospital a esperança é menor... talvez o pensamento que a invade, quando a hora da visita acaba e tem de vir para casa, seja uma angústia enorme, a dúvida sobre o amanhã, porque esta pode ter sido a última visita!!

Vê-la chorar deixa-me um nó na garganta... mas não choro! Apesar de estar cinzenta por dentro não quero chorar, quero que ela perceba que sou um pilar forte, onde se pode apoiar quando precisar. Mas assim que me diz que é o fim só quero mudar de tema e se não consigo, fujo rapidamente para um canto da casa onde ninguém me sinta fraquejar. Estou demasiado debilitada para aguentar com uma cruz tão pesada, mas o orgulho é grande e prefiro esconder-me por trás de uma máscara de ferro...

Sinto-me terrivelmente perdida e angustiada, o que me faz acreditar que nunca serei capaz de viver, no papel de filha, um quarto do que ela tem vivido!! Então invoco alguém... um Deus, quem sabe?? Alguém que me ajude a encontrar uma aspirina para aliviar a dor... do coração!! Ou que me ajude a encontrar força em qualquer parte do meu corpo ou da minha alma, para que possa aguentar o meu sofrimento e atenuar o dela!!

Mas não há comprimidos para o coração e a força não chega, provavelmente porque está esgotada... e é então que me apercebo que apesar de toda a dor que sente, é ela quem me apoia a mim, o que me faz pensar, invariavelmente, que estou perante uma verdadeira mãe!!


ANA RAKEL