domingo, março 11, 2007

Uma última visita!!


Uma última visita!!

Olho pela janela e só vejo a chuva... o vento do inverno que chegou mais cedo, estamos em Agosto. Mas ainda bem que chove. O tempo está a definir com precisão o estado da minha alma... os dias escuros, o anoitecer bem cedo... estou sozinha e triste, mas tenho de aguentar!

A tua presença faria com que me sentisse muito melhor… mas tu não estás! Ficam as tuas mensagens no telemóvel... as tentativas falhadas de me fazer um bocadinho mais feliz. Como se fosse possível arranjar felicidade quando se está a um passo de perder alguém... para sempre!

E a dor de ver alguém tão próximo às portas do fim junta-se ao medo de não ser capaz de consolar a mulher que mais amo no mundo, não ser capaz de dizer que vai ficar tudo bem... provavelmente porque sei que aquilo que para mim é ficar tudo bem, para ela é o partir do coração, é o fim de uma etapa que, com toda a certeza, nunca quereria encerrar.

Não imagino a dor que esteja a sentir… só sei que a cada ida ao hospital a esperança é menor... talvez o pensamento que a invade, quando a hora da visita acaba e tem de vir para casa, seja uma angústia enorme, a dúvida sobre o amanhã, porque esta pode ter sido a última visita!!

Vê-la chorar deixa-me um nó na garganta... mas não choro! Apesar de estar cinzenta por dentro não quero chorar, quero que ela perceba que sou um pilar forte, onde se pode apoiar quando precisar. Mas assim que me diz que é o fim só quero mudar de tema e se não consigo, fujo rapidamente para um canto da casa onde ninguém me sinta fraquejar. Estou demasiado debilitada para aguentar com uma cruz tão pesada, mas o orgulho é grande e prefiro esconder-me por trás de uma máscara de ferro...

Sinto-me terrivelmente perdida e angustiada, o que me faz acreditar que nunca serei capaz de viver, no papel de filha, um quarto do que ela tem vivido!! Então invoco alguém... um Deus, quem sabe?? Alguém que me ajude a encontrar uma aspirina para aliviar a dor... do coração!! Ou que me ajude a encontrar força em qualquer parte do meu corpo ou da minha alma, para que possa aguentar o meu sofrimento e atenuar o dela!!

Mas não há comprimidos para o coração e a força não chega, provavelmente porque está esgotada... e é então que me apercebo que apesar de toda a dor que sente, é ela quem me apoia a mim, o que me faz pensar, invariavelmente, que estou perante uma verdadeira mãe!!


ANA RAKEL

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